segunda-feira, 22 de janeiro de 2018
Entre o niilismo e a chacota
O poço da desmoralização da política - e, por tabela, da democracia – brasileira parece não ter fundo. Depois de quase quatro anos de uma revelação aterradora após a outra sobre o que nossos representantes eleitos fazem a portas fechadas, Fernando Collor, um ex-presidente extremamente impopular e que teve seu mandato interrompido dois anos antes do fim, anuncia que mais uma vez concorrerá à presidência da República.
Quando o escárnio parecia ter atingido seu limite com a constatação de que dos dois candidatos líderes nas pesquisas, um deles está às voltas com o judiciário, prestes a ser condenado em segunda instância e ser impedido de concorrer, e o outro é talvez a figura mais abjeta, ignorante, imbecil, agressiva e perigosa que esteve sob os holofotes nos últimos tempos.
Palavras e expressões como terra arrasada, caos e fim da linha podem soar pessimistas, e até mesmo exageradas, mas são os termos que merecem ser utilizados para descrever o atual cenário. Fica quase impossível não ceder ao niilismo.
A política é elemento imprescindível e constitutivo da vida em sociedade, enquanto a democracia, embora imperfeita, ainda é a melhor forma de governo que já existiu. A descrença e a desconfiança dos brasileiros em relação aos nossos políticos e seus partidos se tornaram o tópico onipresente em qualquer conversa na fila do banco ou no transporte a caminho do trabalho. Ainda que seja salutar a aparente politização do povo brasileiro, o sentimento de ojeriza vai minando e enfraquecendo uma democracia ainda imatura. Há o alarmante perigo de se estender a repulsa pelos homens (políticos) à atividade (política), o que seria desastroso.
Neste contexto de percepção da política como seara da sujeira e da corrupção, como atividade imoral e indigna, a pré-candidatura de Fernando Collor vem corroborar a ideia de que a política brasileira se assemelha a um esquete histriônico de péssima qualidade. E de que forma a sociedade reage? Com memes, esse artigo da era digital que os brasileiros brilhante e compreensivelmente se especializaram em produzir, afinal a sagacidade de nosso povo encontrou na nossa política um material abundante.
É fundamental então buscarmos dissociar políticos e política, sob o risco de transformarmos a desesperança que sentimos em terreno fértil para o crescimento do(s) autoritarismo(s). Precisamos resgatar a seriedade inerente à política e relegar os fantasmas e cadáveres insepultos que insistem em nos assombrar ao seu verdadeiro lugar: o limbo.
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